21 novembro, 2018

Quanta desigualdade somos capazes de tolerar?

Cartoon contemporâneo à Revolução Francesa mostra o Terceiro Estado (proletariado) carregando a nobreza e o clero nas costas. Na legenda: "Resta esperar que este jogo termine logo"

Para começar a falar de desigualdade, é preciso determinar honestamente qual nível de desigualdade estamos dispostos a tolerar. Em termos bem genéricos e reducionistas, o nível de tolerância com a desigualdade econômica me parece ser a diferença teórica fundamental entre a esquerda social-democrata e a revolucionária. Os dois lados concordam que a desigualdade é estruturante do capitalismo e está inscrita na sua história. Ou seja, nenhuma das duas correntes esquematicamente hegemônicas da esquerda acredita que as desigualdades possam ser eliminadas dentro de uma sociedade capitalista. Isso nos coloca uma pergunta, anterior à definição da estratégia de combate à desigualdade, seja ela qual for: no nosso horizonte utópico, somos pela redução da desigualdade ou pela eliminação das estruturas de reprodução sistêmica da desigualdade? 

URSS, Angela Davis e a síndrome da moldura estreita
O sistema está em colapso. Mesmo assim, como diz o filósofo esloveno Slavoj Zizek no documentário Zizek! (2005) da diretora canadense Astra Taylor, hoje imaginamos com mais facilidade o fim da vida na Terra do que o fim do capitalismo. Do lado da esquerda, isso pode ter a ver com o trauma da queda do muro de Berlim: talvez, tenhamos aderido facilmente ao discurso conservador que assimilava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ao fim do próprio socialismo. Como se tivéssemos engolido, por osmose, a ideia do fim da história da escola de Chicago (por mais falha que fosse do ponto de vista conceitual) e aceitado passivamente a redução do nosso campo político à função de porteiro do edifício capitalista. Seríamos os administradores preferenciais desta estrutura decadente e lutaríamos para que mais gente conseguisse alugar seus quartinhos, abandonando completamente a ideia de derrubar o prédio inteiro e usar o terreno baldio para abrigar todo mundo.

Em outras palavras, deixamos de lado a perspectiva revolucionária – nosso horizonte utópico – para aceitar, com pragmatismo irracional, a ideia de que a reforma perene gradualmente transformaria o capitalismo em algo mais humano. A ruptura saiu de nosso ethos político e passamos a ver a história (ou pós-história em nossa sanha fukuyamesca) através de uma lente positivista, como um processo progressivo contínuo. Para piorar, ao aceitar a ideologia que assimilava a queda do muro ao fim da luta de classes, parecemos ter passivamente nos investido, enquanto campo político, de uma culpa católica pelo que houve de pior no stalinismo. Como se, humilhados pela derrota de uma primeira experiência contemporânea inspirada em nossa perspectiva utópica, houvéssemos encampado a série de analogias banais e empiricamente insustentáveis da Hannah Arendt: Stalinismo = União Soviética = Socialismo = Nazismo.

A aceitação desta radical redução epistemológica, deste logocídio[1] dos conceitos históricos relacionados à construção política da esquerda, nos torna presa fácil da propaganda neoliberal mais rasteira. Ficamos obrigados a reagir, de forma também propagandista, dentro de um terreno lógico propositadamente esvaziado de sentido. Ao invés de defender, de maneira crítica e dialética, os avanços direta ou indiretamente decorridos da Revolução Russa – desde a humanização panfletária da exploração capitalista sob Bretton Woods e o Plano Marshall até a descolonização maciça da África negra pela via revolucionária –, passamos a disputar o texto que ilustra a lápide da nossa utopia. Talvez o fato de o campo progressista ter encampado a fragilíssima tese do fim da história (sequer na perspectiva hegeliana, mas de Francis Fukuyama mesmo) seja a grande vitória ideológica da direita pós-1989.

Ainda que a abundância de suposições confira a estes últimos parágrafos um tom de psicologia social de botequim, é difícil não enxergar a nítida dificuldade do campo da esquerda hegemônica em se desamarrar do que é lícito e possível dentro da lógica da social-democracia representativa burguesa. É emblemático que, em seu livro mais recente (Freedom is a constant struggle: Ferguson, Palestine and the foundations of a Movement), a filósofa, professora e ativista Angela Y. Davis reflita exaustivamente sobre a denominação “Movimento pelos direitos civis” para se referir à ebulição social promovida pelos negros estadunidenses nos anos 60. Em determinado trecho do livro, depois de defender o Programa de Dez Pontos do Partido dos Panteras Negras[2] como principal resumo das demandas populares daquela era, Davis comenta o “desenvolvimento dialético do movimento de libertação negra”: “Existe este movimento pela liberdade e, depois, uma tentativa de estreitá-lo para que caiba em uma moldura muito menor, a moldura dos direitos civis. Não que direitos civis não sejam imensamente importantes, mas liberdade é algo muito mais expansivo que direitos civis” (DAVIS, 2016:71-2).

Hoje, parece que toda nossa construção ideológica enquanto campo político sofre desta “síndrome de encolhimento da moldura”. Aceitamos a existência de um muro imaginário que estreita a tal ponto nossa visão que não enxergamos mais utopia no horizonte. E não é apenas do ponto de vista da ação. Via de regra, desde que colapsou a União Soviética, não nos atrevemos sequer a pensar em termos revolucionários.

É um paradoxo terrível: pactuamos a desigualdade como empecilho central ao desenvolvimento humano; aceitamos que, dentro deste sistema político e econômico, não existe perspectiva de eliminação das desigualdades; mas não topamos discutir a derrubada do sistema, porque a desestruturação de seus preceitos básicos está fora da moldura artificial que nos foi imposta. Aceitamos a moldura por uma razão exógena, moralista, que é a resignação dos derrotados numa batalha histórica pela hegemonia política. Como se, com a queda do Muro de Berlim, assumíssemos uma dívida sagrada com a humanidade, que só pode ser paga com um voto de silêncio ideológico. Nosso medo de destruir a moldura – hoje, gravemente danificada, não por ação nossa, mas pela insustentabilidade inerente ao  capitalismo – nos leva a optar por eliminar de nosso vocabulário político a ideia de acabar com todas as desigualdades. Enquanto a base da pirâmide afunda sob uma ofensiva classista do topo e a desigualdade explode a níveis genocidários, naturalizamos a disparidade de gênero, raça e classe ao defender “redução de desigualdades”. Tornamo-nos, nós também, logocidas disputando uma mimese publicitária de nossas bandeiras históricas, quando deveríamos nos dedicar a encontrar caminhos intelectualmente honestos de aprofundar a democracia, contra a qual o capitalismo em crise declarou guerra aberta, e pautar à esquerda a implosão do sistema.

É necessário defender claramente e agir para a promoção da diversidade e da inclusão política, democrática e anticapitalista em todos os níveis, como caminho de acabar com as desigualdades, de todas as ordens. Além de me parecer que o combate inegociável à desigualdade seja o valor fundamental que nos une sob a bandeira da esquerda, acredito que temos a oportunidade histórica, oferecida pela crise sistêmica corrente, de radicalizar essa luta. Talvez seja hora de idealizar outro mecanismo de mediação primária das relações humanas, diferente do dinheiro. Diante do colapso do inimigo, é fundamental formarmos o repertório ideológico para dar novo sopro de vida à utopia anticapitalista. 

Caso contrário, nos sobrará, se muito, um cargo de gerência do pós-capitalismo distópico proposto pela direita. E, como costuma dizer o ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, o épico apocalíptico Matrix parecerá um documentário.

O mito de Adam Smith e o dinheiro como sistema de opressão

Adam Smith imaginou uma sociedade baseada na barganha quando escreveu, que “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses” (SMITH, 1996:50). Lembrando a historinha: José assava pão, mas queria sapato. João produzia sapatos, mas queria peixe. E Pedro pescava, mas queria pão. Basicamente, para possibilitar essa troca de interesses desiguais entre iguais (membros de uma mesma comunidade), criou-se o dinheiro. Verdade? Pouco provável...

Antropólogos como o intelectual orgânico do Occupy Wall Street, o anarquista David Graeber, constataram que esse tipo de relação de troca pautada na equivalência simbólica de mercadorias diversas não existe em nenhuma sociedade pré-capitalista contemporânea. E isso é indício de que essa sociedade provavelmente nunca existiu, já que a troca nos termos smithianos pressupõe uma concepção mercadológica liberal prévia.

Para viabilizar seu comércio, os hipotéticos José, Pedro e João precisariam viver numa sociedade em que já existissem: a) a operação mental de conversão da dívida em moeda; b) a primazia do interesse particular do indivíduo sobre o interesse coletivo; c) a radical especialização individual, que leva à atomização do trabalho, d) a existência de uma lógica de troca que se sobreponha à lógica da doação de presentes (que, como demonstra Graeber, a Antropologia constata ser muito mais comum nas relações humanas).

Em outras palavras, a sociedade pré-liberal descrita por Adam Smith não é pré-liberal: ela já tem o dinheiro operando como mediador das relações sociais; já é uma sociedade de mercado, o que é muito diferente de uma sociedade com mercados (GRAEBER, 2011:21).

Graeber mostra que o dinheiro não surge na relação entre vizinhos, amigos, aliados; neste tipo de contexto comunitário, a ideia de retribuição é esdrúxula por si só. Entrego o pão que sobra da minha refeição a meu vizinho não porque espero ganhar o próximo sapato que ele produzir, mas simplesmente porque o pão sobrou. O dinheiro, defende Graeber, é filho da desconfiança e da guerra.
 
Por exemplo, o soldo em metal era fornecido pelo Império Romano aos soldados em províncias longínquas por duas razões simples:
  1. Como propaganda política dos imperadores e generais que imprimiam seus rostos na moeda;
  2. como forma de manutenção simbólica da propriedade dos soldados em terra estrangeira; o dinheiro funcionava como título precatório de propriedade em solo romano. E, por isso, uma vez posto em circulação, ganhava rapidamente caráter especulativo.
Se o mundo antigo fosse uma sociedade de mercado, Adam Smith não teria escrito sobre a barganha do padeiro com o sapateiro, mas sobre a crise do subprime em 76 a.C., quando a Gália tivesse tentado recuperar os títulos do Tesouro romano em propriedade do exército ocupante. Quer dizer, o dinheiro nunca foi uma commodity, ele sempre foi uma promessa de pagamento.

Ao desconstruir o mito de Adam Smith, Graeber defende que a dívida nasce das relações hostis entre desiguais (ocupante e ocupado, opressor e oprimido etc.) e se materializa no dinheiro. A dívida é, portanto, anterior ao dinheiro, que funciona como ferramenta de dominação e não como um mecanismo de abstração de valores, encarregado de gerar equidade entre interesses díspares numa relação amistosa de troca. Resumindo, para Graeber a origem da desigualdade econômica está no próprio dinheiro enquanto ferramenta de geração de dependência.

Hoje, atalhando irresponsavelmente a longa história do capitalismo, depois do metalismo, da comodificação dos corpos humanos no ciclo da escravidão capitalista transatlântica, do fim do lastro do dólar e, mais recentemente, da reação classista das elites político-econômicas à crise de 2008, parece que temos a volta da dívida a essa condição etérea, pré-monetária. Quando ficou claro o caráter estrutural da última crise e a política foi sequestrada pelas elites financeiras, abriram-se as portas para uma inédita radicalização do processo de financeirização que, de acordo com o economista grego Costas Lapavitsas, restruturou profundamente o modus operandi de empresas, bancos e até da economia doméstica. Pesadas medidas de desarticulação da produção e do trabalho deram protagonismo econômico sem precedentes ao rentismo e ao extrativismo financeiro, gerando uma explosão de desigualdade de renda. 

Conforme o capital concentra a maioria dos esforços em sua própria reprodução, levando a atividade produtiva e, consequentemente, o emprego à quase obsolescência, o dinheiro fica cada vez mais abstrato. Se desde 1971 ele já havia perdido o lastro em qualquer coisa física, com a radicalização do processo de financeirização, o dinheiro (entendido como ferramenta de manutenção da opressão por meio da geração de dívidas injustas entre desiguais) está nu: ele é dívida pura, lastreada única e exclusivamente no valor moral que a gente atribui à dívida. Quer dizer, hoje mais do que nunca, ele é um sistema de crença. Uma dívida deve ser paga não por ser lógica ou justa, mas por ser moralmente sagrada.

Como chegamos a este ponto? Como chegamos ao ponto de achar moralmente aceitável, no mundo inteiro, que o Haiti siga pagando com carne humana por sua independência revolucionária? Ou que a dívida externa de países colonizados, expropriados contínua e violentamente há cinco séculos, seja natural? Por que achamos normal que a Grécia seja estrangulada por tentar renegociar sua dívida, se até a da Alemanha nazista foi anistiada? Talvez tenha a ver com o fato de que o dinheiro é dívida pura e, do ponto de vista da psicologia social, a materialidade do capital esteja fragilizada. Como se o grande capital, consciente da inédita intangibilidade do dinheiro, tenha constatado que qualquer recuo com relação à moralidade da dívida possa abalar sua hegemonia sobre a psicologia social. Afinal, uma vez que o capital perdeu sua racionalidade e nos empurra ao colapso econômico, social, político e ambiental, sua única tábua de sustentação é a irracionalidade da crença em sua inexorabilidade. O discurso ideológico tatcheriano de que “não há alternativa” é o que sustenta o capitalismo em sua fase mais irracional e suicida. Não à toa, do fundamentalismo religioso – islâmico ou sua imagem espelhada cristã – ao negacionismo do aquecimento global, as ideologias que mais crescem no mundo contemporâneo são apocalípticas.  

A parcela da esquerda que abdica da ideia de ruptura, transforma suas bandeiras em logomarcas eleitoreiras e se rende passivamente à filosofia do fim da história entra também num ethos apocalíptico. E pior, perde a oportunidade que emerge deste frame da história da sacralização do mercado como fiador da aristocracia burguesa: enfrentar a naturalidade da dívida imposta ideologicamente pelas eternas elites aos eternos oprimidos. Enfrentar, enfim, a utilidade social dos cunhadores de moeda, que abdicaram da parede ideológica construída pela materialização do dinheiro e investem todo seu trabalho e capital político na manutenção da teologia da dívida. Enfrentar ideologicamente, a ideia autoritária de que nascemos devedores; essa ideia fundamental que estabelece a desigualdade como natural. Radicalmente falando, enfrentar a desigualdade depende de enfrentar a ideia de dívida e sua materialização, o dinheiro.

Mas como fazer isso se abdicamos até da existência da luta de classes? Neste barco, estamos sozinhos. Desde 2008, o inimigo mostrou sua verdadeira face e assumiu a vanguarda da luta de classes. Os indícios estão no pano de fundo de todas as decisões político-econômicas que se seguiram ao colapso do sistema. Por mais diversas que fossem as justificativas ideológicas por trás das chamadas medidas de austeridade fiscal (talvez “medidas de desintegração social” fosse um nome mais adequado) aplicadas mundo afora no pós-2008, elas efetivamente beneficiaram os perpetradores do caos ao reorientar a verba do Estado ao topo da pirâmide e destruir (na prática e ideologicamente) o estado de bem-estar social; atacaram frontalmente a classe trabalhadora ao acelerar o desmantelamento do próprio trabalho e, consequentemente, estimular ideologias políticas tóxicas; reduziram o Estado à função de aplicador do monopólio da violência; criminalizaram e esvaziaram a representatividade política; centralizaram as principais decisões políticas em órgãos não-eleitos, reduzindo a efetividade e o valor da democracia na psicologia da sociedade; criminalizaram a pobreza e a diversidade; reforçaram cartéis e a formação de monopólios nas atividades produtivas...

Poderíamos elencar por páginas e mais páginas as consequências nefastas desta contrarrevolução classista coordenada globalmente. Mas vamos nos concentrar no aprofundamento radical da desigualdade econômica e em seu efeito na psiqué de nossa era. Não é a toa que a palavra distopia, há meros cinco anos, uma completa desconhecida, se proliferou no vocabulário dessa segunda década do século XXI: as elites que, durante a Guerra Fria, articularam ideologicamente a utopia liberal de ascensão social por meio da ideologia meritocrática, hoje assumem abertamente que, dentro deste sistema, o mundo é pequeno demais para todos nós. Entre mudar o sistema e reduzir a quantidade de gente no mundo, elas optam claramente pela segunda alternativa. E essa tática de extermínio acontece por meio da cobrança da injustificada mas sagrada dívida dos pobres com os ricos, tanto na esfera individual quanto na geopolítica.

Por que a Grécia do Syriza foi pisoteada e humilhada pela Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI) ao tentar, timidamente, renegociar sua dívida pública em 2015? Por uma questão puramente ideológica. O liberal John Maynard Keynes deve ter se revirado no túmulo ao ver sua filosofia econômica rotulada de “extremista” quando levada a Bruxelas pelo então chefe das Finanças gregas, o já citado Yanis Varoufakis. No livro que lançou recentemente, Adults in The Room, Varoufakis conta uma história reveladora do compromisso ideológico das elites contemporâneas.

Cansado, com dor de cabeça, o ministro fez uma pausa pro café, depois de argumentar por cinco horas com os credores que os bancos públicos gregos deveriam manter o controle sobre a emissão de títulos da dívida soberana – função que a Troika queria transferir para Luxemburgo, um paraíso fiscal –; que a força de trabalho pública não poderia ser cortada em dois terços; e que o setor produtivo não poderia se converter num duto de capital para o exterior por meio de uma política desenfreada de privatizações. Quem o acompanhou para fora da sala foi o outro lado moderado da negociação, Christine Lagarde.

Em um atentado sincericida, a diretora-geral do FMI confessou que Varoufakis tinha razão: o receituário da Troika carecia de racionalidade econômica, afundaria a Grécia em recessão e inviabilizaria qualquer restruturação econômica, enterrando a possibilidade de Atenas quitar sua dívida externa. Mas que o capital político investido naquele receituário irracional era alto demais para que qualquer um na sala recuasse. Foi quando o ministro grego se deu conta de que ele talvez fosse o primeiro devedor da história a tentar pagar uma dívida a um credor que não queria receber. O que estava em jogo era a manutenção da estrutura de poder, por mais irracional que fosse. Estava em jogo a sinalização de Berlim a Paris de que não haveria espaço para ideias minimamente emancipatórias em cabeças portuguesas, irlandesas e espanholas. Que o cartel que formou a união monetária manteria sua forma de cartel e não cederia a uma aventura democrática (VAROUFAKIS, 2017:28-30). 

Essa historinha ilustra como as oligarquias, frente a uma crise sistêmica sem perspectiva de fim, rifaram a própria lógica em nome de sua própria sustentação. Há prova maior de que o mercado e a mão divina do Adam Smith são um sistema de crença? Como disse um amigo economista de cerveja em riste, dificilmente os historiadores do futuro chamarão de “capitalismo” isso que a vivemos hoje. Isso aqui não é mais capitalismo porque carece dos preceitos ideológicos básicos daquele finado sistema econômico: mito da ascensão social, mercado auto-regulado, venda do trabalho em troca de mais-valia, centralidade econômica do setor produtivo... Tudo isso evaporou.

A ascensão social só acontece (moderadamente) entre classes médias. De um certo patamar para cima ou para baixo, a sociedade é estamental, da Arábia Saudita aos Estados Unidos. O mercado é mais dependente do que nunca do Estado que, no pós-2008, salvou o setor financeiro em detrimento do produtivo e, consequentemente, da população. O trabalho é cada vez menos vendável, não apenas porque a automação já substituiu a maior parte da base braçal e ameaça o setor secundário, mas porque não há mais burguesia exploradora: com a pulverização das companhias em sociedades anônimas, até o CEO é um funcionário. Logo, não existe mais possibilidade de expropriação dos meios de produção. A produção não é nem proprietária nem central na geração de lucro do sistema. A ideia de comum ganhou penetração na sociedade, mas apenas entre as elites econômicas. As S/As são propriedades compartilhadas dos meios de produção, que ironia.

Necroeconomia: inempregáveis crônicos como lenha para a fogueira do capital

Ou seja, o inimigo já percebeu que estamos no pós-capitalismo. E está determinado a ressuscitar patamares de desigualdade anteriores ao primeiro sistema de organização econômica global a permitir o sonho da ascensão social. Com uma diferença: desta vez, a base da pirâmide não tem função produtiva. Pelo contrário, para que o sistema se autorreproduza em sua lógica cumulativa, para que o lucro privado continue a guiar o desenvolvimento humano em seu desprezo profundo pela finitude dos recursos naturais, é necessário reinventar a existência econômica – e física – da maior parte da população. Talvez, nos estertores do capitalismo, estejamos entrando na era da necroeconomia, parodiando a necropolítica de Achille Mbembe.

Alguns indícios da criatividade perversa das oligarquias para a sociedade pós-trabalho já podem ser vislumbrados mundo afora. Um dos mecanismos de reciclagem econômica de quem não cabe mais em nenhum ciclo produtivo é o complexo industrial prisional – que a jurista negra estadunidense Michelle Alexander chama inteligentemente de “nova Jim Crow”, em referência à lei de segregação racial que deu sobrevida à escravidão no sul dos Estados Unidos. 

Depois de comentar o lucro recorde em 2008 da Corrections Corporation of America (CCA), a principal administradora privada de presídios no mundo, Alexander lista os setores que se beneficiam diretamente da explosão da população carcerária: “Além das empresas privadas de administração carcerária, uma ampla gama de exploradores do sistema prisional ficará órfã se o encarceramento em massa recuar, incluindo as empresas de telefonia que extorquem as famílias dos detentos cobrando presos exorbitantes para que se comuniquem com seus entes queridos; fabricantes de armas que vendem rifles e pistolas não-letais para carcereiros e policiais; prestadoras de serviços de saúde contratadas a valores superfaturados pelo Estado para fornecer (parca) assistência médica aos presos; o exército americano, que explora a força de trabalho dos detentos na fabricação de equipamento militar para os soldados no Iraque; corporações que utilizam o trabalho dos presos para evitar pagar salários dignos; e os políticos, advogados e banqueiros que negociam as construções de novos presídios em comunidades rurais predominantemente brancas – em acordos que prometem muito mais do que entregam. Todos esses interesses políticos e corporativos apostam todas as fichas na ampliação do encarceramento em massa” (ALEXANDER, 2010:231), como forma de reciclagem daqueles que são economicamente inviáveis na atual etapa de desenvolvimento do capitalismo financeirizado.

Ou seja, não falamos só da volta da escravidão capitalista, a primeira modalidade de servidão a reduzir corpos humanos a commodities. Falamos de uma evolução conceitual da coisificação: se na era do metalismo, o corpo humano tinha um peso em ouro (era lastreado em um objeto), na era da desmaterialização completa da economia, o corpo se torna capital especulativo. A escravidão contemporânea é baseada na coisificação sem coisa – o que deixa o ser humano mais descartável do que nunca. A expectativa de encarceramento e, portanto, de geração de lucro sobre a massa inempregável, economicamente morta, impacta as projeções das empresas. Isso significa que, para que a promessa da geração de valor sobre o corpo humano se concretize, é preciso projetar um prazo para que este corpo torne-se produtivo, uma data de expiração no título de ganho futuro com o trabalho escravo do preso. Em outras palavras, o lucro de hoje depende de metas de quando e quanto se prenderá no futuro. 

Isso obriga as empresas envolvidas na especulação sobre o encarceramento em massa a se engajar na caça ativa do lastro humano para os subprimes da nova escravidão. Não é a toa que a Califórnia tornou-se a Meca da privatização carcerária: está colada no safári dos futuros presos. Cresce de forma alarmante o número de pessoas que cumprem pena de até cinco anos em regime fechado por reincidência no crime de tentativa de imigração ilegal para os Estados Unidos. Latino-americanos recuperados pela polícia de fronteira ou por milícias (privadas ou comunitárias, formadas por justiceiros) são entregues ao Judiciário, que deporta os primários e coloca a barganha sobre a mesa dos reincidentes: cumprir pena reduzida ou encarar, em solo estrangeiro com advogado fornecido pelo inimigo, o peso completo da lei, que pode significar até 30 anos de reclusão. Claro que a maioria aceita cumprir a pena menor e, ironicamente, fazer exatamente o que sonhava fazer ao tentar a travessia: trabalhar. Só que por um salário abaixo do preço de mercado e que, ao invés de ser usado para construir um futuro melhor, servirá para financiar os custos de sua própria deportação. Transformar mão-de-obra imigrante em capital escravo especulativo. Esse é novo American Way de enfrentar a crise migratória.

Outra forma de reciclagem do inempregável crônico (o termo “precariado”, ainda que útil para definir quem não cabe mais nos mercados formais de trabalho, pode vir a soar eufemista caso se concretizem os planos do sistema para a base da pirâmide) é a indústria da morte, que pode ser um bom guarda-chuva para abrigar os setores químico-farmacêutico e armamentista. O funcionamento dessa última dispensa grandes explicações. Basta olhar para os brinquedos voadores de Barack Obama explodindo um casamento no Paquistão ou um vilarejo na Somália; para a relação do Pentágono com a empresa de mercenários Blackwater (rebranded Academi por excesso de crimes de guerra) que não se abala por mais escabrosas que sejam as denúncias de abuso de direitos humanos por seus funcionários; para a impressionante curvaascendente no valor acionário da fabricante de armamentos Lockheed Martin desde o início da chamada “Guerra ao Terror”; para a reclassificação mercadológica dos equipamentos de controle de massas como as bombas de gás lacrimogêneo e as balas de borracha de “armas de baixa letalidade” para “não-letais”[3]; ou para a curiosa tolerância ocidental com a Arábia Saudita, cujas diferenças para o autoproclamado Estado Islâmico não vão muito além da vestimenta tradicional, do fato de ter conseguido se constituir como estado e de ter se tornado o principal comprador de armas do mercado internacional[4].

Em alguns momentos da história, farmacêutica-química-bélica nem precisaram do mesmo guarda-chuva, eram uma coisa só. A gente esquece que a Monsanto foi a fabricante do agente laranja, arma química de produção baratíssima, que transformou o sudeste asiático num showroomde graves deformações genéticas. Ou que, em 1942, o CEO da Monsanto Charles Allen Thomas chefiou o Manhattan Project, pesquisa do Pentágono que culminou em Hiroshima e Nagasaki. Não é a toa que, no mundo da guerra permanente, quando a indústria bélica perde qualquer amarra ética ou política formal, quando recomeçam os testes com armas químicas em Estados devastados como Síria e Líbia, a Monsanto está em vias de ser comprada pela gigante farmacêutica alemã Bayer. Uma empresa que pesquisa curas compra outra que gera doenças – e o Cade preocupado com o risco à concorrência. Ou seja, o que se prepara para o próximo capítulo da guerra de classes é um recorte financeiro para determinar quem tem ou não o direito de viver. Basta lançar a doença e determinar o preço da cura.

Fazer as pazes com a luta de classes e enfrentar a guerra declarada pelas elites

Talvez esses acontecimentos sejam indícios de um movimento tectônico na história da luta de classes e, consequentemente, da desigualdade. Retomando de forma esquemática, os fatores macroscópicos que permitem essa leitura são: 
  1. A reação classista das democracias liberais à crise de 2008, quando governos de plataforma humanista, liberal e social-democrata optaram por rifar o povo e salvar o poder financeiro por meio da auto-intitulada austeridade fiscal – que de austera não tem nada, já que saca recursos de setores com potencial de desenvolvimento econômico e social para atirá-los no setor financeiro, o menos seguro de toda a economia; 
  2. O consequente descrédito da democracia representativa, seu enfraquecimento deliberado e derradeiro sequestro pelas elites econômicas; 
  3. O inteligente apoio dessas elites a plataformas anti-humanas, anti-políticas, abertamente fascistas, que encontram bodes expiatórios de todos os males do capital entre as parcelas mais vulneráveis da população e prometem mudar tudo para deixar tudo igual; 
  4. A ressignificação ideológica da escravidão e do genocídio como valores – repaginados, lógico, com nomes mais market-friendly

Em suma, as elites vêm com tudo para tentar vencer a guerra encolhendo a população planetária para não ter que encolher o ritmo de sua geração de lucro.

Uma política incapaz de enfrentar a ideia de que o lucro deva ser o motor da atividade humana é uma política intrinsecamente tóxica, incapaz de enfrentar seu próprio sequestro pelo poder financeiro. O inimigo está em guerra e a arma dessa guerra é o aprofundamento genocida da desigualdade. E nós? Estamos em guerra? Ou vamos deixar com eles o monopólio da violência?

Uma de nossas principais missões em um mundo que se tornou irracional, no qual as elites admitem a inviabilidade do sistema com determinação sanguinária, é demonstrar com todas as forças a irracionalidade desse sistema e lutar para implodir os templos em que se cultua o Deus-Mercado, como dizia o saudoso sonhador Eduardo Galeano. No plano das instituições internacionais, esses templos são claros: paraísos fiscais e os tribunais de arbitragem, respectivos mecanismos financeiro e jurídico da financeirização.

Se algum dia voltarmos ao governo, temos de estar preparados para responder em que medida toda e qualquer ação que tomemos contribuirá para reduzir desigualdades de maneira radical e interseccional. Tudo que fizermos, por menor que seja, terá de enfrentar, ao mesmo tempo e sem concessões, o racismo, o patriarcado, a patologização das identidades de gênero, o genocídio negro, periférico e indígena, a intolerância com as religiões de matriz africana, o colapso ambiental, a deseducação política, a concentração de renda, a financeirização do setor produtivo. Isso significa, desde já, que um novo governo de esquerda terá de ter uma abordagem holística sobre os problemas sociais, terá de enfrentar radicalmente a fragmentação das esferas decisórias e a abordagem compartimentada sobre os problemas estruturais.

Será necessário que cada ação tenha eco em nosso horizonte utópico. É preciso que consigamos apontar com precisão como cada mínimo movimento político nosso nos aproximará do nosso objetivo de eliminar todas as desigualdades promovendo toda a diversidade. E é óbvio que, hoje, esta é uma colocação utópica. Mas é preciso que comecemos a expressá-la para que, aos ouvidos das próximas gerações, ela soe mais realista.

Já tivemos abordagens holísticas, que nos aproximaram deste ideal interseccional. Em certa medida, foi o que fez o Bolsa Família, um programa sócio-econômico-educacional claramente feminista. Só não poderíamos chamá-lo de plenamente interseccional porque o programa contribuiu para a financeirização ao inventar novo campo de exploração para os bancos, que haviam visto encolher sua caderneta corporativa, conforme o setor produtivo incorporava as finanças como atividade endógena. A financeirização dos pobres me parece ter garantido, na cauda longa, a lucratividade de um setor parasitário de multi-bilionários que tendia a encolher.

Enfrentar problemas de maneira holística foi o que fez o BNDES nos governos do PT, ao transformar o Estado em agente empreendedor, disposto a assumir, em nome do desenvolvimento nacional, riscos que travariam investimentos já nos gráficos de projeção de lucro do setor privado. Quer dizer, a década progressista nos aproximou do horizonte utópico. Mas, sem crítica construtiva, mas honesta e radical, ele se afastará de novo.

Agora que o inimigo declarou guerra de classe, deu até golpe, a gente precisa aceitar essa premissa marxista da luta de classes e incorporar, à la Angela Davis, todos os exércitos excluídos às nossas trincheiras. Precisamos entender que ganha-ganha não existe mais.

O presidente Lula sempre fala, orgulhosamente, que empresário nunca ganhou tanto dinheiro quanto no governo dele. É verdade. Mas é uma verdade triste, pois, se a distância entre os extremos da pirâmide não encolheu, é difícil determinar qual foi o real nível de distribuição de renda.
Precisamos discutir qual nível de desigualdade estamos dispostos a tolerar. Por mim, implodiria a pirâmide. Acho que nenhuma desigualdade de berço é aceitável. Nascer inferior a outro ser humano é imoral e não tem nada a ver com vontade divina. A não ser que a gente aceite que Deus é o mercado, que o racismo é natural, que as mulheres são inferiores, que as pessoas LGBT são doentes, que os povos originários são selvagens. A única maneira de tolerar algum nível de desigualdade inata é acreditar nas duas faces da moral neoliberal: darwinismo social e meritocracia. Logo, se a eliminação das desigualdades desaparece de nosso horizonte utópico, o discurso de redução das desigualdades é filosoficamente insustentável.

No duro ciclo que se anuncia, a capacidade de pensar em termos utópicos e interseccionais será determinante para a sobrevivência da esquerda enquanto campo político. Em termos de imaginação política, precisaremos ir muito além do possível.

Talvez seja o caso de criar não a independência financeira, mas a independência do dinheiro como mecanismo de sobrevivência. A independência da estrutura bancária. A independência do lastro a uma moeda sem lastro. E talvez isso passe por lastrear o consumo ao próprio consumo e não a uma entidade opressora e exploradora externa. Um novo sistema econômico interno vai ter de ser criado. Ou sistemas econômicos independentes, restritos às comunidades, que se comuniquem aos sistemas econômicos vizinhos em uma segunda esfera. Talvez seja necessário gerar minilastros entre sistemas econômicos, de forma que eles se balanceiem de maneira independente da exploração... Externamente, precisamos reconstruir os laços e prestígio internacional para denunciar os paraísos fiscais e os tribunais de arbitragem. Pra evitar o caos ambiental, a ascensão fascista, o crescimento de ideologias apocalípticas, precisaremos estar dispostos a atacar o coração do sistema.

O primeiro passo é dessacralizar o sistema, expor a falácia do mito fundador smithiano e derrubar o véu da mão invisível do mercado. Não há mão invisível porque o mercado só existe enquanto crença. Temos que lembrar que a economia é uma ciência humana. Que o dinheiro é uma invenção nossa, e talvez seja tecnologia obsoleta.

Para começar esse processo, é preciso trocar a moeda da inclusão social. O custo da inclusão tem que ser o empobrecimento dos ricos; o “desempoderamento” dos brancos; dos homens, dos héteros. A democracia tem que ser paga em privilégio, não em dinheiro. Enquanto a democracia for negociada a dinheiro, ela é uma finançocracia. Para juntar essas duas palavras gregas - demos (povo) e kratos (poder) -, vamos ter que aprender a expropriar privilégios. E, acima de tudo, nos permitir sonhar a construção do impossível.

Notas

[1] O conceito de “logocídio” é definido pelo jornalista, professor de Princeton e ministro presbiteriano Chris Hedges como o processo de “assassinato de palavras”. No livro American Fascists: The Christian right and the war on America, Hedges escreve que os dominionistas (facção fundamentalista da direita evangélica estadunidense) “falam em termos e frases que são familiares e confortáveis para a maioria dos americanos, mas distorcem o significado original das palavras. Eles adotam um processo gradual de “logocídio” [...]. Conceitos do velho sistema de crença são desconstruídas e recebem significados diametralmente opostos [aos originais]. Palavras como ‘verdade’, ‘sabedoria’, ‘morte’, ‘liberdade’, ‘vida’ e ‘amor’ não têm mais o mesmo significado originalmente atribuído no mundo secular. ‘Vida’ e ‘morte’ significam ‘vida em Cristo’ e ‘morte de Cristo’ e são usadas para sinalizar crença ou descrença no Senhor. ‘Sabedoria’ tem pouco a ver com conhecimento humano, mas se refere ao nível de compromisso e obediência ao sistema de crença. ‘Liberdade’ [...] trata da liberdade que o sujeito encontra quando aceita Jesus e se liberta do mundo para fazer Sua vontade. Mas talvez a deturpação mais perniciosa seja de ‘amor’, a palavra utilizada para atrair ao movimento pessoas que buscam uma comunidade calorosa e solidária para enfrentar seu isolamento e alienação. O ‘amor’ é distorcido para significar uma sujeição inquestionável àqueles que clamam falar em nome de Deus em troca da promessa da vida eterna. O cego amor humano, a aceitação do outro, é atacado como uma forma inferior de amor, perigosa e indigna de confiança” (HEDGES, 2006:14).
[2] Davis especula que o programa-manifesto, elaborado na sede do Partido em Oakland por Huey P. Newton e Bobby Seale, talvez seja “mais atual hoje do que na época” (DAVIS, 2016:2). Uma boa tradução do Programa dos 10 Pontos pode ser encontrada online no caderno Panteras Negras: estratégia e revolução (p. 22-3), organizado pelo coletivo Casa da Resistência [https://gatopretocomunicacao.files.wordpress.com/2016/12/caderno-completo.pdf].
[3] Um relatório da ONG Who Profits, disponível em https://whoprofits.org/sites/default/files/weapons_report-8.pdf mostra o processo de rebranding deste tipo de equipamento bélico, sobretudo as bombas de gás, que surgiram como armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial e hoje são usadas contra populações civis.
[4] Sobre a ascensão de Riad ao atual posto de líder da OPEP e proxy do Ocidente no Oriente Médio, ver o episódio sobre o país da série documental The Empire Files, da rede Telesur English. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=TmSRWXCosxc. 

Bibliografia
ALEXANDER, Michelle. The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness. Nova York. The New Press, 2010.
DAVIS, Angela Y. Freedom is a constant struggle: Ferguson, Palestine and the foundations of a movement. Chicago. Haymarket Books, 2016.
GRAEBER, David. Debt, the first 5000 years. Nova York. Melville House Publishing, 2011.
HEDGES, Chris. American Fascists: The Christian right and the war on America. Nova York. Free Press, 2006.
LAPAVITSAS, Costas. Profiting without producing. Londres.
Verso, 2013.
Panteras Negras: estratégia e revolução. Casa da Resistência, 2016. Disponível em: https://gatopretocomunicacao.files.wordpress.com/2016/12/caderno-completo.pdf
SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo. Editora Nova Cultural Ltda, 1996.
VAROUFAKIS, Yanis. Adults in the room: My battle with Europe's deep establishment. Londres. Random House, 2017.
ZIZEK!. Direção: Astra Taylor, Produção: Lawrence Konner. Estados Unidos/Canadá: Hidden Driver Productions, 2005.

*Texto produzido em novembro de 2017, para o debate Brasil que o Povo quer - Capitalismo e Desigualdades, promovido pela Fundação Perseu Abramo.
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